Derrame pleural maligno

O derrame pleural maligno é uma complicação frequente das doenças oncológicas, afectando cerca de 15% de todos os doentes com cancro, particularmente no cancro do pulmão e de mama. À medida que a incidência global de cancro e a sobrevida global aumentam, prevê-se que também se verifique um aumento dos casos com derrame pleural maligno. A sua ocorrência é normalmente um sinal de mau prognóstico, pelo que os objectivos de tratamento são essencialmente paliativos, focando no alívio de sintomas e na minimização do tempo de hospitalização necessário. 

Ensaios clínicos de anos recentes têm trazido evidência crescente sobre a hierarquização dos procedimentos na gestão do derrame pleural maligno. Enquanto que um grupo limitado de doentes poderá manter vigilância e paliação com oxigénio e medicação com opióides e/ou sedativos, a maioria dos casos deverá beneficiar de uma intervenção tendencialmente menos invasiva e mais precoce do derrame pleural. A decisão sobre a melhor abordagem inicial depende de vários factores, como a gravidade dos sintomas, estado geral e preferência do doente, a sua sobrevida estimada, bem como a presença de loculações pleurais ou sinais sugestivos de encarceramento pulmonar. Continua a ser necessário enquadrar e maximizar a potencialidade da toracocentese evacuadora. Contudo, uma vez determinada a etiologia maligna do derrame pleural, assumindo-se assim a sua natureza recidivante quase universal, a realização de pleurodese deve ser ponderada e discutida com o doente de forma precoce. Vários protocolos de pleurodese têm sido propostos. Recentemente, o ensaio TAPPS mostrou idêntica eficácia da pleurodese com talco (talcagem) através da técnica de talc poudrage durante a toracoscopia médica e talc slurry através de um dreno torácico de pequeno calibre (<14 Fr). No seguimento destas conclusões, o estudo EPIToME procurou provar que o cateter pleural tunelizado de longa duração pode ter lugar na abordagem de 1ª linha no derrame pleural maligno, permitindo realizar talcagem eficazmente nos casos com adequada re-expansão pulmonar (taxa de sucesso 74%), e com uma percentagem de pleurodese espontânea razoável (43%) por drenagem intermitente nos casos não candidatos a talcagem devido ao encarceramento pulmonar ou insuficiente expansão pulmonar. 

Espero que com a minha revisão dos dados e a partilha da nossa experiência consiga incentivar os colegas a manter também esta área na prioridade da agenda da Pneumologia portuguesa, desafiando-os a estabelecerem protocolos uniformizadores da abordagem do derrame pleural maligno.